Catarata, miopia e astigmatismo são problemas dos
olhos que um bom oftalmologista resolve. Há, entretanto, outros problemas
relativos à visão, em que a ação do médico é ineficaz, as conseqüências são
muito mais sérias e, somente o "colírio divino que unge os olhos" (Ap
3.18), pode nos ajudar.
Jesus disse que "se os olhos forem bons todo o
corpo será luz. Se, porém, os olhos forem maus, o corpo será tenebroso"
(Mt 6.22-23). Em outras palavras: a forma como olhamos a vida, o mundo e as
pessoas, interfere nas sensações do corpo, interfere nos pensamentos, interfere
na vontade, interfere nos relacionamentos. Os olhos são a janela da alma. O
olhar que lançamos interpreta o mundo e fala muito de nós. É nosso olhar que
vai dizer se somos cristãos ou não, se somos mansos ou se somos intolerantes.
Se vivemos em luz ou em trevas.
Com que tipo de olhos temos observado o mundo à
nossa volta, o erro dos irmãos, a incapacidade do nosso chefe, as limitações do
nosso pastor, os que pensam diferente de nós, e os que não compartilham de
nossa "espiritualidade"?
Os olhos maus estão em toda a parte e são temidos
por todos. A religiosidade popular chamou de "mau olhado". Se um bebê
começa a chorar inexplicavelmente a crendice logo imagina ser o mau-olhado de
um invejoso que visitou a casa. Se bate o carro novo, foi o
"mau-olhado" do vizinho.
Crendices à parte, pessoas de olhos maus necessitam
de cura. É uma doença que todos precisamos estar atentos, pois sem perceber,
ela pode se instalar em nossas vidas. Dentro do Corpo de Cristo não estamos
imunes a ela, pelo contrário, os olhos maus se manifestam na Igreja de muitas
maneiras: é a crítica pela crítica, é a intolerância, é o julgamento, é o
sectarismo, o farisaísmo.... Tudo isso é uma doença dos olhos.
Olhos maus tornam a pessoa insensível, dura, cruel,
impede o perdão e pretende tomar sobre si a vingança, quando a Bíblia diz
claramente que "Deus é o vingador". Olhos maus não conseguem se
alegrar com a manifestação da bondade divina na natureza e na vida ("a
Terra está cheia de Tua bondade").
Há olhos que não enxergam, há olhos que enxergam só
vultos (Mc 8.24), há olhos maus, há olhos cansados , há olhos que não se
satisfazem, há olhos altivos, há olhos maliciosos, há olhos rápidos, que não
tem sossego e não se fixa em nada. Há também quem vê mas não
"enxerga". São olhos que se recusam a enxergar: Deus está mostrando
mas eles não querem ver.
O que fazer quando percebemos que nossos olhos não
têm sido bons, que vivemos em trevas, e só temos tropeçado? Jesus diz: "Se
o teu olho te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti" (Mt 4.8-9).
Obviamente não se trata de literalmente arrancar seu olho, mas sim arrancar de
dentro de si toda predisposição de julgar, de combater, de criticar, todo
"a priori" negativo....
Os olhos maus não suportam a alegria, a leveza, é
incapaz de sorrir verdadeiramente. O seu ar é sempre grave. Há crentes de olhos
tão duros que a nossa primeira reação diante deles é de fuga, e não de
aproximação. Há crentes de olhar inquisidor, como se estivessem sempre
espreitando a vida alheia, prontos para lançar-lhes uma fatura de cobrança.
De que forma Cristo olhou para Zaqueu sobre a
árvore, para o endemoninhado geraseno e para a mulher pecadora que lhe ungiu os
pés? Foi um olhar suave, de misericórdia, de amor, de abertura, olhar que vê
aquilo que só os de coração puro podem ver, que enxerga através da aparência,
do "status quo", da má fama. É assim que Cristo nos olha. Seu olhar
tranqüiliza e abre a porta para a restauração. Não é o olhar condenatório como
o dos discípulos que pediram fogo do céu para consumir a cidade que não os
receberam bem.
Esse olhar de Cristo não significa desconhecimento
de nossos erros, mazelas e pecados. Pelo contrário, é o olhar suave e bondoso
"apesar de". Jesus está enxergando o potencial, o vir-a-ser que essas
pessoas carregam dentro de si. Jesus aposta em nós.
Certa vez o profeta Eliseu orou para que o Senhor
abrisse os olhos do seu discípulo e visse que o lugar onde estavam era cercado
por cavalos e carros de fogo (2Rs6.17). Possivelmente o olhar daquele moço não
carecia apenas de fé, mas também de olhos bons, pois a glória de Deus só pode
ser vista e sentida através da totalidade de um ser centrado na mansidão do
olhar. Olhos maus são incapazes de ver as maravilhas de Deus. Nos dias de hoje
vejo as pessoas orando para que Deus lhes abra os olhos da fé, mas creio que é
imprescindível orarmos para que o Senhor também cure o nosso olhar.
http://reveziolima.blogspot.com.br/2006_06_18_archive.html
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